quarta-feira, 18 de março de 2009

BARRAGEM DE ENGENHEIRO ÁVIDOS: RISCO OU EXAGERO?




BARRAGEM DE ENGENHEIRO ÁVIDOS: RISCO OU EXAGERO?
Por JACKSON QUEIROGA


O Ministério Público Federal em Sousa, através de uma audiência ministerial que contou a presença com engenheiros do próprio MP e do Dnocs, membros da comissão gestora do Açude Engenheiro Ávidos e São Gonçalo e ainda do Vereador Daniel Pinto Gadelha, solicitou ao Departamento Nacional de Obras contra as Secas (Dnocs), inspeção no açude de Engenheiros Ávidos localizado em Cajazeiras. Há preocupação em saber se o açude pode ter estrutura comprometida pelo excesso do volume de água.
O pedido foi feito pela procuradora da República Lívia Maria de Sousa, que recebeu denúncia de que o excesso de água das recentes chuvas estaria comprometendo a capacidade de armazenamento. Esse assunto mais uma vez em tantos anos vira polêmica, chamando atenção das pessoas e dividindo opiniões: afinal há ou não risco de rompimento da barragem de Engenheiro Ávidos? Com intuito de esclarecer essa questão a equipe de reportagem da Revista Dimensão procurou o Engenheiro de Minas Nível Máster, Francisco Antônio Braga Rolim, popularmente conhecido como Catonho, com comprovada experiência no assunto, para responder algumas de nossas indagações. Por telefone ele nos concedeu a seguinte entrevista.

JACKSON QUEIROGA – No momento em que os técnicos e engenheiros do DNOCS não deixam a barragem de Engenheiro Ávidos (Boqueirão) chegar a 100% da capacidade de armazenamento, seria essa uma prova da fragilidade e do risco de rompimento?

Eng. Francisco Antônio Braga - Não resta qualquer dúvida desse fato, pois mesmo o DNOCS não tendo no seu quadro profissionais especializados em geotectonismos, geotecnia e mecânica das rochas (e com sensibilidade aguçada para "sentir" os sintomas), seus técnicos tem a experiência de saber quando uma barragem está sendo solicitada além do que sua capacidade de segurança permite. Nesse caso de Ávidos, eles não sabem e não enxergam o porquê os sinais de fragilidade da barragem são emitidos.

Ao não permitir que a barragem Ávidos atinja sua capacidade plena, todos os anos o estado da Paraíba perde um volume de água suficiente para abastecer a população de todo o sertão do estado, além da população da cidade de Campina Grande, somente considerando a diferença de volume entre o máximo e o que é permitido! Deve ser esclarecido o fato de que toda barragem é projetada com fator de segurança elevado, portanto, o volume dágua a ser armazenado em uma barragem deve ultrapassar com grande margem de segurança o que foi projetado.
Dessa forma, a barragem em discussão poderia atingir com plena segurança o volume de 300 milhões de metros cúbicos e sua estrutura permanecer estável, porém, todos sabemos que isso não ocorre. Pelo contrário, ao atingir cerca de 70 % do volume de projeto (o volume de projeto é de 255 milhões de metros cúbicos), já há incertezas da segurança dessa barragem, e grande parte da população entra em estado de temor com um possível arrombamento.


J.Q - Há risco real de arrombamento da barragem do açude de Engenheiro Ávidos? Por quê? Eng. Francisco Antônio Braga - Sim. Por dois principais motivos:
Primeiro, porque a Barragem foi construída em ambiente geológico que sofreu uma forte perturbação tectônica, de magnitude tão elevada que causou o rompimento e o afastamento da cadeia de montanha, e formou o atual boqueirão e a drenagem regional. Por força desse tectonismo, grande parte das rochas ficaram fraturadas (em forma de grandes blocos).
Portanto, são blocos de rochas necrosadas que, quando há o acúmulo de grandes volumes de água por um tempo longo, tendem a sofrer deslizamentos e/ou escorregamentos, e obviamente transmitem à barragem, fragilizando-a, já que a mesma constitui-se em uma simples (e pequena) extensão ou segmento da cadeia de montanhas, onde esta cadeia de montanhas tem o completo domínio e é muito mais resistente do que a barragem. Os sinais (ou sintomas) da fragilidade da barragem são as contínuas e recorrentes rachaduras, crateras e buracos que subitamente e inadvertidamente ocorrem. Portanto, devido ao forte tectonismo ocorrido, o mesmo é verdadeiro responsável pelos abalos na barragem.

Segundo, porque, devido ao tectonismo, e ao ambiente geológico instabilizado, o projeto da barragem deveria ter dado maior atenção ao fator geotectônico em raio de 10 quilômetros, além de estudos geotécnicos e de mecânica de rochas para profundidades de cerca de 50 metros, adaptado para receber os esforços provenientes do substrato geológico (a exemplo das construções no Japão). Infelizmente a barragem não tem essa concepção, e quem projetou não identificou o problema.

J.Q - Se há realmente um risco, por que os engenheiros responsáveis pelo manancial não assumem e tomam providencias cabíveis?

Eng. Francisco Antônio Braga - A resposta anterior quase que esclarece essa indagação, mas, além da incapacidade técnica de enxergar e entender o que está ocorrendo no ambiente geológico perturbado onde a barragem Ávidos foi construída, acredito que também está havendo arrogância e falta de humildade, o que leva ao excesso de confiança. Só que nenhum deles atesta em documento assumindo a responsabilidade. Porque, caso ocorra colapso na barragem, seguramente será em período chuvoso, quando as terras e todos os corpos dágua já estarão completamente encharcados e, como o nível dágua da barragem Ávidos encontra-se a 100 metros mais alto do que as ruas da cidade de Sousa, além de que o volume de água acumulado é grande, portanto, a catástrofe será de proporções gigantescas, e a população sofrerá as consequências pelas milhares de vidas ceifadas e perda do patrimônio.

J.Q - O valor de 2 milhões de reais liberados para a barragem é suficiente para solucionar o problema?

Eng. Francisco Antônio Braga - Não, esse recurso, que não é suficiente, está voltado para estudos técnicos especializados visando o diagnóstico e a comprovação científica do que está causando as rachaduras na barragem, e conclusões do que precisa ser feito para, futuramente, aplicar a solução.


FONTE:
CLICKPB

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